Reflexões sobre política e discursos na democracia

Reflexões sobre política e discursos na democracia

Recente entrevista que li no site da BBC com o promotor Antonio Di Pietro, da Operação Mãos Limpas, que intentou livrar a Itália da corrupção nos anos 90, ressalta a importância de se apurar os fatos, mesmo com os principais nomes da classe política envolvidos nos escândalos. Por outro lado, pela posição que ocupam, estes indivíduos tentarão impedir o progresso das investigações, como temos visto. Este alerta sobre o comportamento da classe política que lança mão de esforços para barrar a apuração dos delitos foi destacada pelos procuradores da Operação Lava-Jato, entre eles o jovem Deltan Dallagnol (34), um dos mais novos doutores em Direito a entrar no Ministério Público Federal (MPF) brasileiro. 

Todo o debate em andamento nos permite recordar e estudar outros acontecimentos da política nacional e entender que as figuras políticas têm permanecido as mesmas e, ao longo dos anos, mudam suas convicções e estratégias. Na época do impeachment de Collor, o deputado gaúcho Ibsen Pinheiro (PMDB) era o presidente da Câmara dos Deputados durante o processo e também foi acusado de ser um dos anões do orçamento – uma situação similar ao que o Brasil vive em 2016 com Eduardo Cunha (PMDB). 

Indico uma matéria interessante do UOL, que demandou um intenso trabalho de pesquisa na Câmara dos Deputados em Brasília (DF) a fim de assistir horas e horas de gravações dos discursos dos parlamentares realizados em 1992  1992, também período de Collor, por meio do qual eles concluíram que os discursos eram parecidos ao que escutamos hoje: “do lado governista, se tratava de um “golpe”; do lado da oposição, o ataque de quem não teria mais “condições éticas e morais” de seguir no poder”. No começo de 1999, era o PT quem trabalhava pela saída do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e de ambos os lados também apareciam as palavras de ordem sobre o suposto “golpe” e a “defesa da democracia”. 


Em 2016, o Brasil passa por mais um embate ferrenho dos discursos sobre o impeachment da presidente Dilma Roussef – um jogo de informação, de contra-informação e um intenso esforço de influenciar a opinião dos eleitores e cidadãos em geral, maximizado repercussão do conteúdo pelas redes sociais e pela internet. Mas, quando estudamos as mensagens políticas mais a fundo e numa perspectiva histórica, entenderemos que a diferença de opiniões é parte integrante das democracias. 

As eleições são ao mesmo tempo um fator de coesão social, mas também são um elemento que pode levar à desunião, por causa das diferenças entre os candidatos e partidos. Por isso, é preciso ter ética e responsabilidade nos discursos políticos para não insuflar a violência ou exacerbar os confrontos, pois a política não é um mero espetáculo. Se realmente, os brasileiros e seus representantes têm a democracia como um valor principal, a transparência deve ser mais importante do que o apelo a palavras vazias, quando o que se fala não corresponde à ação.

Para finalizar essa reflexão, cito uma frase da pesquisadora Tereza Lúcia Halliday: “O descompasso entre discurso e prática na política tem contribuído para uma visão distorcida da retórica como instrumento de empulhação e para uma desconfiança generalizada dos políticos como homens sem palavra” (capítulo do livro Mídia, Eleições e Democracia, 1994, p. 90). 
Reflita sobre o que escuta, pondere, informe-se. A apuração dos fatos que visam combater à corrupção no Brasil é mais importante do que o jogo de palavras, dos argumentos que insuflam a violência e a discórdia, tanto faz se o partido seja PT, PMDB, PSDB, PP ou qualquer outro que lembrar.  


  


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