Marcela Temer: uma só matéria, muitas visões de mundo em debate

Marcela Temer: uma só matéria, muitas visões de mundo em debate

A matéria de Veja sobre Marcela Temer, mulher do vice-presidente da República, Michel Temer, dentro da atual conjuntura política e social, pode ser analisada e criticada por meio de diferentes perspectivas: política, quando se foca na figura de seu marido e da crise atual que envolve a presidente Dilma Rousseff; o papel da mídia e do jornalismo, se tentamos entender o objetivo da Veja e dos meios de comunicação; e do empoderamento feminino/machismo, quando se observa o texto e as reações que eles suscitaram sobre a liberdade da mulher, que tomaram a praça pública na qual se transformou a internet.

Os papeis da mulher estão em constante debate
Alguns comentários criticaram Marcela Temer por ser “do lar”, como se fosse demérito se dedicar a vida doméstica. Este artigo de Ruth Manus, publicado no Estadão, faz uma bela análise deste perspectiva ao falar das mudanças da mulher na sociedade ocidental, que nem sempre segue a velocidade que gostaríamos, e contribuem para “sermos livres e respeitadas, seja no lar ou seja no bar”. É a diversidade da qual tanto se fala e que ainda estamos aprendendo a conviver com ela.

Respeitando-a como esposa e mãe, afinal são escolhas femininas também, podemos falar da nossa crítica à imprensa. No caso específico, a revista Veja que, mesmo criticando a falta de empoderamento feminino em algumas reportagens, mantém vícios de abordagem em outras matérias, como nesta. Existem vários trechos a serem destacados, mas vou me ater ao final dela, onde aparece a frase: “Michel Temer é um homem de sorte”, pelo perfil da mulher que tem: bela, recatada, do lar, jovem e fogosa. Então, um homem que tem uma mulher independente não é tão sortudo assim, Revista Veja? Vale lembrar que o texto traz a assinatura de uma jornalista.

Li ainda críticas ao fato de Marcela Temer ser casada com um homem muito mais velho. Mas, penso que nós nada temos a ver com o relacionamento deles. Assim como não temos nada a ver com a vida e as escolhas de homossexuais, heterossexuais ou transsexuais. Parar de cuidar da vida alheia é um treino. Podemos até conhecer a história de vida, analisar, identificar tendências de comportamento, mas sem juízos de valor de certo ou errado. Este relacionamento não fere a integridade física de ninguém – Marcela não reclama de estar algemada, de ter sido prometida na infância ou coisa que o valha. Acredito que a vida dela poderia nos interessar como cidadãos, desde que ela fizesse parte do gabinete de Temer e ganhasse algum salário público sem trabalhar. 




Cabe observar ainda que a matéria não traz uma entrevista com Marcela Temer. Parece mais uma “cozinha”, texto no qual se resgata informações que já foram escritas sobre ela, somada com algum tipo de bisbilhotice sobre sua rotina familiar. Faltam a esta matéria algumas características que descrevem uma boa notícia: não trouxe dados recentes ou inéditos; não é objetiva, pois o jornalista não buscou isenção; e nem trouxe algum fato de interesse público.
Alguns outros pontos a se observar: 1) existe uma falta de conhecimento e perspectiva para algumas pessoas criticarem a matéria; 2) O próprio Lula falou que o PT vai deslegitimar Temer, ou seja, começar a guerra da propaganda negativa contra ele, o que inclui a família. Então, alguns comentários que correram nas redes sociais têm este viés político evidenciado. Sobre todas as discussões em curso, resgato as palavras da historiadora Mary Del Priore, em uma entrevista para o site da BBC: “Faz parte do mundo contemporâneo termos opiniões diferentes, a complexidade desse Brasil são os “brasis” que esse país contém”. Tenha opinião, mas não faça a guerra!



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