Greve dos caminhoneiros e a batata quente

Greve dos caminhoneiros e a batata quente

Hoje é dia 25 de maio, quando se completa 5 dias do início da greve dos caminhoneiros no Brasil. Análises, apoios e críticas surgem de muitos lados, junto com o esforço de identificar o “culpado” pelo movimento, como se existisse um único culpado e motivo. Todo acontecimento social, econômico e político é estimulado por uma confluência de fatores e, se tem algo que combato, é o reducionismo de explicações. O esforço de atribuição da culpa é como se fosse aquela “batata quente” da brincadeira infantil, na qual cada ator social tenta jogá-la nas mãos do outro. 

De toda forma, o Brasil, seus parlamentares, o poder Executivo (atual e os antigos) e a Petrobras continuam a lidar com os problemas de forma muito pontual e sem pensar no contexto (antes, agora e o que projetar para o futuro). E segue o baile funk e, no ar, somos envolvidos pelo “cheiro de diesel e motor queimando óleo” – uma situação caótica, na qual a greve é só a ponta do iceberg dos problemas estruturais, que podemos relacionar alguns (mas não pretendo exaurir o assunto. Atualizei este texto no domingo, dia 27/05, após acompanhar e ler mais matérias sobre o tema):

Falta de diferentes modalidades de transportes no Brasil: se, por um lado, é legítima a greve dos caminhoneiros, de outro, a paralisação expõe novamente nossa dependência do transporte rodoviário (faltam trens, transporte fluvial etc.), com estradas mal conservadas e  pouco mais de 30 mil quilômetros de ferrovias em operação, sem contar os portos. Leia mais aqui.

Rodovias em mal estado de conservação: apesar de sermos um país territorialmente extenso e baseado no transporte rodoviário, a maior parte das nossas rodovias (quase 90% dos quilômetros construídos) não é asfaltado, condições de infraestrutura que encarecem o frete pelos custos de manutenção. Leia mais aqui. A segurança nas estradas também influencia no  valor, em função do valor do seguro.

Aumento da frota de caminhões: políticas de financiamento com juros subsidiado para compra de caminhões no governo Dilma ampliou a frota e hoje o mercado tem mais oferta de profissionais, para um economia em recessão. Leia mais aqui   

Definição do preço do barril de petróleo: O Petróleo é nosso”, mas quem manda no preço do barril é a OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo (e faz tempo), que faz subir e descer conforme planejam e da qual o Brasil não é membro. Leia mais aqui.

Política de preços dos combustíveis da Petrobras: em junho de 2017, a Petrobras anunciou mudanças em sua política de preços e, a partir de 01 de julho, passou a reajustar diariamente os preços nas refinarias para acompanhar a volatilidade da cotação internacional e da taxa de câmbio, com aumentos constantes no diesel e gasolina, difícil de assimilar no mercado e que poderá afetar a inflação no longo prazo, pois afeta toda a cadeia produtiva.  Leia mais aqui

Brasil não refina seu petróleo: o Brasil extrai petróleo e importa combustível, entendeu? O Brasil produz petróleo, mas não tem capacidade suficiente para refiná-lo (transformar em gasolina e outros subprodutos). As refinarias planejadas pela Petrobras, ainda nos governos Lula e Dilma, estão anos atrasadas ou paralisadas. Sabe aquele dinheiro jogado fora na refinaria de Pasadena (EUA) e os gastos milionários com a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, uma obra ainda não finalizada na qual bilhões de reais foram gastos a mais? (ainda tem a COMPERJ no Rio). Então, anos de má gestão e corrupção, cobram seu preço na ponta, para o consumidor, para o caminhoneiro…É certo que os US$ 11,9 bilhões arrecadados com a venda do óleo cru não bancam os gastos com o volume quase equivalente ao que o Brasil importa de combustíveis e outros derivados de petróleo”, veja análise. E a OPEP não deve ver com bons olhos os esforços brasileiros de ofertar mais petróleo que eles gostariam…tá criada a celeuma (Dilma sofreu com o preço do petróleo em baixa, que derrubou a arrecadação de royalties. Ou seja, não é um assunto fácil de de lidar. Hoje, o vilão é a alta do petróleo).  Veja também esta matéria da Reuters.


Brasil perdeu o controle na cobrança de tributos desde Dilma Rousseff: com incentivos fiscais sem contrapartida verificada, REFIS para vários setores, aumento de tributos para uns setores e redução para outros, perdendo a isonomia tributária. Mas, sabe a tabela de IR na fonte? Tá congelada. E você, consumidor, que pague a conta! 

PIS/COFINS e a reforma tributária: PIS/Cofins não são impostos. Pela lei, são classificados como “contribuições sociais”. Isso mesmo. São recursos para os trabalhadores (PIS) e que devem ir para saúde, educação e previdência (COFINS). Mas, tem muitos setores que recolhem pouco e outros nos quais a carga é maior. São dois tributos difíceis de se calcular. Entretanto, parte do dinheiro recolhido vai para o BNDES (aquele que empresta recursos para obras em outros países, para empreiteiras e grandes empresas). E o Governo Federal não divide os valores arrecadados com estados e municípios. Quem recolhe PIS/Cofins é o empresário. Está lá no custo total que um trabalhador representa para seu empregador, mas o trabalhador só vai ver este valor quando se aposenta ou tira aquele “aboninho” anual. PIS/COFINS representam uma grande caixa de pandora na carga tributária brasileira e na reforma que não vem. (a cobrança da CIDE é outra discussão).

Listei aqui vários fatores, sem nem entrar em aspectos políticos, questionamento sobre locaute, a Lava-jato,  falta de investimento e política para o programa de Biodiesel, como vão se comportar os fornecedores de Etanol para atender o crescimento da demanda etc. Diria que a “batata quente” é de todos os participantes, que precisam pegar a leguminosa e “descascar” juntos.     

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