Antipetismo não é suficiente para ganhar eleição para presidente do Brasil

Antipetismo não é suficiente para ganhar eleição para presidente do Brasil

Resolvi escrever este texto com base no que tanto leio nas redes sociais, nos jornais, ouço em programas de TV e rádio (a maioria disponibilizada no YouTube) e tenho estudado. São tantas análises e prognósticos sobre os rumos da eleição para presidente em 2018 que deixam qualquer ser humano enlouquecido, especialmente após cada divulgação das pesquisas de intenção de voto, nas quais Lula (PT) e Bolsonaro (PSL) ocupavam as duas primeiras posições respectivamente, até a impugnação da candidatura de Lula e a oficialização da chapa com Fernando Haddad (PT) e Manuela D´Ávila (PCdoB).  

Com Haddad como candidato oficial, a ordem se inverteu, mas eles são os dois políticos que, hoje, representam a polarização política no País, na qual Bolsonaro passou a ocupar o lugar que nos últimos anos era do PSDB. Mas, será que esta mudança foi a melhor para o país? Será que foi a estratégia adequada para quem quer tirar o PT do poder, depois deles ganharem 4 eleições consecutivas desde 2002? Arrisco-me a dizer que não e quero  apresentar meus argumentos.

Bolsonaro se posicionou como um candidato da Direita, atraindo eleitores mais conservadores (alguns mais extremistas), os “cidadãos do bem”, evocando Deus, a defesa da família, a liberação do porte de arma e uma política econômica liberal, a ser garantida pelo seu futuro ministro da economia Paulo “Posto Ipiranga” Guedes. Ele tem deixado de lado políticas de inclusão dos afrodescendentes e para as mulheres e, principalmente, deixa um vácuo marcado pelo desconhecimento de seus programas de justiça social, de redução da pobreza e da desigualdade, de moradia etc. 

A campanha bolsonarista foca bastante em um sentimento antipetista, exemplificada em sua frase “fuzilar a petralhada do Acre” , que pode ser um dos fatores que estimulou a facada que ele recebeu durante comício em Juiz de Fora (MG) logo depois. Por outro lado, este candidato tem o apoio de ruralistas, de empresários, de associações ligadas as armas, criando a versão tropical de Trump, com intenso apoio nas redes sociais e na produção de fake news, como os vídeos falsos nos quais personalidades como Pe. Marcelo Rossi, o jornalista Arnaldo Jabor e a atriz Fernanda Montenegro estariam apoiando-o, que são desmentidos na sequência pelos próprios personagens.

Entretanto, essa indignação antipetista de Bolsonaro e de seus apoiadores não é nova nos pleitos eleitorais à presidência. Vem sendo usada pelo PSDB e outros adversários de Lula e de seus candidatos, sem sucesso. Documentei isso na eleição de 2014, quando analisei os debates eleitorais entre Dilma (PT) e Aécio (PSDB), quando este atacou sua opositora o tempo inteiro, mas mesmo assim perdeu. O legado dos programas sociais de Lula continuam, eleição após eleição, convencendo um percentual representativo da população – aquela sem renda, sem perspectiva, que não participa das redes sociais e precisa de atenção. 

O PT ainda tem um legado, mesmo que os escândalos de corrupção o tenham abalado, e para enfraquecê-lo mais um pouco,  considero que  a “bala” de Bolsonaro não será suficiente, pois o candidato não tem qualquer diálogo com esta população mais necessitada e que vota, além de ter uma rejeição significativa junto a uma importante parcela da população homossexual,  das mulheres e dos afrodescendentes.  E, quem votou no PT e não quer mais votar nele, não vai migrar para Bolsonaro, vai para Ciro ou Marina. E se precisar, votará contra ele. Na batalha de “salvadores da pátria” entre a personalidade de Bolsonaro e a de Lula, representada por Haddad, o segundo tem mais história e representatividade, mesmo preso.  Se os candidatos do PSDB nunca ganharam as mais recentes eleições presidenciais, por que um candidato tão polarizante e rejeitado seria capaz de fazer isso agora, especialmente sem um programa e sem uma trajetória política de sucesso? 

Na polarização Bolsonaro contra Haddad/Lula/PT, este primeiro não tem qualquer legado ou realizações para defender e oferecer à população, muito menos programa. Arrisco dizer que ruralistas, empresários e banqueiros que o apoiam quiseram impor uma guinada à direita muito grande na gestão federal, mas creio que apostaram em uma estratégia errada. Poderia ter sido muito mais “produtivo”, caso a meta seja tirar o PT do poder, ter escolhido um candidato mais de centro, que tivesse mais carisma, menos rejeição e mais propensão para o diálogo e respeito, com uma mensagem positiva. 

Faltando 2 semanas para a votação, parece bem tarde para uma união dos candidatos de centro-esquerda e centro-direita a fim de apresentarem uma terceira via, ideia proposta por FHC em carta e que está sendo discutida por grupos de empresários. Não dá mais para ter uma chapa que combine dois dentre eles – Ciro (PDT), Alckmin (PDSB) e Marina (REDE), como uma alternativa viável ao petismo e ao bolsonarismo. 

Saindo da disputa entre Bolsonaro e Haddad, temos uma fragmentação de candidatos que mais se canibalizam do que se ajudam. São 13 disputantes, quantidade menor que o número recorde de 22 candidaturas em 1989, mas mesmo assim eles dividem as preferências do eleitor. Em 2014, por exemplo, foram apenas 3 candidaturas que se destacaram (Dilma, Aécio e Marina) que concentraram 97% dos votos válidos no primeiro turno. Teve segundo turno mesmo com Dilma tendo chegado a 41% dos votos válidos, com mais de 43 milhões de votos, o que deve ser impossível a qualquer candidato alcançar em 2018.  

Não tenho bola de cristal ou li as cartas, mas vou arriscar aqui uma aposta: a chapa Haddad (PT) e Manuela (PCdoB) leva essa eleição no segundo turno se a disputa for com Bolsonaro (PSL). E, depois disso, quem quiser derrotar o PT, vai ter um novo ciclo de 4 anos para aprender com os erros e acompanhar os acontecimentos que estão por vir.  E eu planejo continuar estudando  política e comunicação eleitoral. Se outro candidato chegar ao segundo turno junto com Haddad, cabe nova análise, mas pondero que este disputante deve estar ainda próximo do espectro da esquerda, como Ciro Gomes (PDT). O que nos falta ainda é um candidato que represente e transmita uma mensagem de esperança, pois as campanhas eleitorais, com tantas críticas, só trazem desalento aos já desencantados brasileiros.
   
É evidente que neste texto não é possível ponderar todos os fatores intervenientes e a análise aqui expressa não tem a pretensão de ser um artigo acadêmico, mas representa a opinião de quem está acompanhando a disputa, procurando entendê-la frente a fatos e dados históricos. 
           
       

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