Joesley, a crise do PSDB e o “Coxinha pistola”

Joesley, a crise do PSDB e o “Coxinha pistola”

Volto a escrever para retomar um tema sobre o qual escrevi no post “Antipetismo não é suficiente para ganhar eleição para presidente do Brasil”: o PSDB, seus políticos e eleitores, o partido que saiu mais afetado por toda a onda de combate à corrupção, divisão interna, fisiologismo e pela ascensão do conservadorismo frente à dificuldade de identificação do posicionamento ideológico do partido. Para dar conta desses aspectos, vamos por partes.


A eleição presidencial de 2014 foi marcada pela derrota de Aécio Neves nas urnas, por um percentual pequeno de diferença de votos – candidato que nem era cotado para estar no segundo turno. De qualquer forma, esta foi a quarta derrota consecutiva do PSDB para o PT. Como presidente do partido, Aécio contestou o resultado das eleições, denunciado práticas ilegais realizadas pela chapa Dilma-Temer durante a campanha eleitoral. 

Não vou me alongar na apresentação de fatos mas, enquanto o processo corria no Tribunal Superior Eleitoral (TSE),  o cenário social, político e econômico se tornou bastante instável pelas dificuldades de Dilma Roussef (PT) administrar a crise que se instaurou logo após o começo do seu segundo mandato, com críticas às suas propostas vindas de todos os lados, incluindo membros sua própria legenda. 

Entre discussões sobre as pedaladas fiscais e sessões no Congresso Nacional, veio o impeachment da presidente,  embalado pelos gritos e “panelaços” de manifestantes que foram às ruas e ficaram conhecidos pejorativamente como os “coxinhas”, em  contraposição aos “mortadelas” (petistas), sendo São Paulo o epicentro da mobilização que tomou conta do país.  É possível considerar que os “coxinhas”, então, se sentiram “vitoriosos”. Mas, a nossa história tem as suas reviravoltas.

O impeachment que colocou Michel Temer (MDB) no poder, estimulou mais um racha no PSDB: apoiar ou não o novo governo de um vice eleito pela chapa adversária nas eleições? (considerado “golpista”, agora, pelos próprios petistas).  Aécio Neves, ainda presidente do partido, conduziu os debates internos a favor do apoio do PSDB ao novo presidente e pessedebistas ocuparam ministérios.  Entretanto, eis que no meio do caminho surgiu a delação de Joesley Batista, presidente da JBS, com suas gravações, que ocasionou grandes estragos na imagem já desgastada de Michel Temer e Aécio Neves.

Se Aécio tinha algum capital político, tendo em vista a falta de confiança geral da população na classe política, este foi derrubado pela delação da JBS pois, para uma parte representativa do seu eleitorado, não era possível acreditar que o dinheiro solicitado ao empresário fosse apenas um “empréstimo” de Joesley Batista ao então presidente do PSDB. 
Afinal, por que acreditar nas demais delações e não nesta que tem fita, fotografias e testemunhas da transação? 

Aécio foi tirado da presidência do partido, apesar de muita resistência de sua parte e confrontos públicos com outros membros da legenda, como o senador Tasso Jereissati (CE). Por seu lado, Temer conseguiu resistir aos pedidos de abertura de impeachment contra ele, uma resistência baseada na negociação de cargos e emendas parlamentares. Entretanto, registra-se índices de desaprovação crescentes do seu governo pois, mesmo com o controle da inflação e lenta retomada do desenvolvimento econômico, o desemprego não diminuiu.  

Assim, podemos nos perguntar, como ficou a cabeça do eleitorado do PSDB quando as pesquisas de intenção de voto mostravam que a preferência do eleitorado direcionava-se para Lula, mesmo com processos na Operação Lava-Jato e preso? É neste processo que insiro o surgimento do que resolvi denominar de “coxinha pistola”, que resolveu radicalizar à direita e apoiar o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, em detrimento ao candidato oficial do PSDB, Geraldo Alckmin, também presidente do partido. Este é o  novo racha, dos muitos que o partido acumula em sua história. 

O “coxinha pistola” é, acima de tudo, um anti-PT que, tem todas as possibilidades de ser novamente frustrado em suas ambições de eleger o presidente da república, pois Bolsonaro é um candidato com alto índice de rejeição, conforme apontam as pesquisas de diferentes institutos. Até o dia de hoje (29/09), os levantamentos indicam a ida dos dois extremos para o segundo turno: Haddad (PT) e Bolsonaro (PSL), com vitória do primeiro.  Assim, mais um candidato que não consegue vencer o PT nas urnas, mesmo com a rejeição que o petista tem por parte dos eleitores. Bolsonaro ainda procura manter este apoio antipetista com novas estratégias, mas falar disso é outra história.

Quero só fechar o post, trazendo à baila a crise do PSDB, com a parte que já está migrando seu apoio e voto ao Bolsonaro, com atestam várias matérias na imprensa, com alguns destes sendo tratados como traidores do legado partidário pessedebista baseado na social-democracia. Aproveito para lançar algumas questões: será que o partido não falhou em explicar ao eleitor o que a social-democracia por oferecer-lhe? Será que o eleitor brasileiro já  não está cansado das críticas ao PT como estratégia de campanha? Será que o PSDB sabe quem é o seu eleitor e se este está mais identificado com os ideais da esquerda ou da direita? Em qual espectro ideológico o PSDB vai se posicionar, se e quando a reforma política ocorrer? 

Matérias na imprensa apontam ainda que o senador Cássio da Cunha Lima (PSDB – PB) não perde um oportunidade de anunciar o racha do PSDB e, pelo que parece, se esforça para que este ocorra, conforme podemos ver nesta matéria de 2010, 2017 e de 2018, onde ele criticou a estratégia de Alckmin de atacar Bolsonaro na campanha eleitoral. Foram vãos os esforços vãos de FHC em unir os candidatos do centro em torno do partido.  Do outro lado, os diretórios regionais tentam “salvar” as candidaturas locais, apoiando os extremos e tentando agradar o “coxinha-pistola” que é eleitor de Bolsonaro. Continuaremos a acompanhar o desenrolar da eleição presidencial, para o congresso e governos estaduais de 2018 na qual, podemos aventar a hipótese, o PSDB se tornou coadjuvante ao lado do MDB.  

 
 


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