Apesar da torcida e empenho da imprensa, a terceira via não decola para a eleição presidencial de 2022

Apesar da torcida e empenho da imprensa, a terceira via não decola para a eleição presidencial de 2022

* Por Chris Santos

A polarização política nas eleições é uma realidade no Brasil há vários pleitos para se eleger o Presidente da República, nos quais tivemos dois partidos na reta final da maior parte das disputas: PT e PSDB. Esta polarização, entretanto, vem escalando e se tornou exagerada, dividindo a sociedade em dois grupos antagônicos e que entram em constante conflito, com desavenças que se transformam em brigas discursivas ou nas quais os participantes lançam-se às vias de fato ou, como dizem, saem no tapa.

O cenário eleitoral está mais acirrado, desde a eleição de Bolsonaro (PL) em 2018. Não estamos mais no estágio da polarização, mas chegamos à fase da chamada hiperpolarização política. O Prof. Dr. Wilson Gomes (2019) descreve esta situação ao dizer que

cada parte considera que está em guerra e ainda pode eliminar o oponente e que, por conseguinte, tudo está valendo, inclusive inventar, exagerar e distorcer os fatos para demonizar e desmoralizar o adversário.

A perspectiva é binária e dicotômica do “nós contra eles”, do “bem contra o mal”, dos “bandidos” de um lado e os “mocinhos” do outro. No contexto da eleição presidencial de 2022, temos nos extremos Lula (PT) x Bolsonaro (PL).

A partir deste resumo da situação, podemos identificar um certo empenho de partidos políticos e mais ativamente da imprensa de lançar uma chapa denominada de terceira via, que seria formada por políticos mais ao “centro” do espectro ideológico – já que os dois principais são representantes da “esquerda” e “direita”.

Diariamente, são publicadas matérias e colunas de opinião sobre o assunto em veículos como Folha de S. Paulo, Estadão, CNN Brasil, BBC Brasil, entre muitos outros. Títulos como ‘“Temer apoia terceira via em 2022: “eleitor deve ter opção”´ (Migalhas, 2021); “Há demanda pela terceira via, problema está na oferta”, avalia cientista político’ (CNN, 2022); “Planalto e ‘caciquismo político’ travam promessa de terceira via unificada” (Estadão, 2022) são alguns exemplos.

Uma candidatura que se apresentasse como “terceira via” deveria ter a qualidade de construir pontes entre espectros ideológicos diferentes, estimular o diálogo, facilitar as negociações e as alianças partidárias, distensionar e diminuir o discurso de ódio e as crises institucionais. O mundo ideal. Mas, como uma chapa pode se formar com essas qualidades quando os potenciais políticos citados não abrem mão do seu próprio ego e todos querem ser o “cabeça de chapa” e ninguém quer ser vice?

Temos Simone Tebet (MDB), Dória Jr. (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e o mais desconhecido de todos Luciano Bivar (União Brasil, o dono do cofre do partido, que se formou a partir da fusão do DEM com o PSL). Todos sonham com a faixa presidencial, mas vão ficar longe dela, porque “quem muito quer, nada tem”. Em termos de nomes, vale lembrar que Sérgio Moro foi retirado da disputa presidencial pelo União Brasil, seja para não tirar votos de Bolsonaro ou pelo fato de Luciano Bivar ser um dos caciques do partido e querer os holofotes sobre si.

Certo é que após a falha de negociação desta terceira via, os candidatos deverão se preparar para serem novamente coadjuvantes na disputa à eleição presidencial (salvo se ocorrer alguma calamidade. Esperamos que não ocorra).

Melhor aceitar, como lamenta o colunista da Folha de S. Paulo, Joel Pinheiro da Fonseca, ao dizer que: “A terceira via não existe”. Mas, qual a possibilidade de criarmos uma sociedade mais pluralista, com melhor convívio entre pessoas de opiniões diferentes e de enfraquecer a hiperpolarização? Por enquanto, está distante também e vai demandar mais esforços de todos nós.

Referências bibliográficas

BULLA, Beatriz e VENCESLAU, Pedro. “Planalto e ‘caciquismo político’ travam promessa de terceira via unificada”. Estadão, 29 de abril de 2022. Disponível em https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,terceira-via-eleicoes-2022,70004051770, Acesso em 03 de maio de 2022.

FONSECA, Joel P. A terceira via não existe. Folha de S. Paulo, 02 de maio de 2022. Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/joel-pinheiro-da-fonseca/2022/05/a-terceira-via-nao-existe.shtml>. Acesso em 03 de maio de 2022.

GOMES, WILSON. As fake news entre digitalização e polarização da política. Revista Cult, 25 de outubro de 2019. Disponível em <https://revistacult.uol.com.br/home/as-fake-news-entre-digitalizacao-e-polarizacao-da-politica/>. Acesso em 03/05/2022.

ROMERO, Felipe. “Há demanda pela terceira via, problema está na oferta”, avalia cientista político. CNN Brasil. Disponível em https://www.cnnbrasil.com.br/politica/ha-demanda-pela-terceira-via-problema-esta-na-oferta-avalia-cientista-politico/. Acesso em 03 de maio de 2022.

Temer apoia terceira via em 2022: “eleitor deve ter opção. Migalhas, 17 de novembro de 2021. Disponível em https://www.migalhas.com.br/quentes/355023/temer-apoia-terceira-via-em-2022–eleitor-deve-ter-opcao. Acesso em 03 de maio de 2022.

*Chris Santos é uma profissional com mais de 30 anos de experiência em comunicação corporativa, assessoria de imprensa e marketing digital. Com bacharelados em Relações Públicas e em Ciências Sociais, pela USP; especialização em Gestão de Processos Comunicacionais (USP); MBA em Gestão de Marcas (Branding), pela Anhembi-Morumbi; e mestre em Comunicação e Política, pela UNIP. Tem se dedicado ao estudo de tendências nas áreas de marketing digital, jornalismo, comunicação e política e tecnologias da comunicação e informação.

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